2009-04-15

A mesa se revela...

Revela também como metáfora da organização social. Mas nos dias de hoje especialmente, da nossa relação com o planeta num todo.

Outro dia recebi o convite de Robson Jusntino, para participar do evento que será realizado em Belo Horizonte no mes de agosto de 2009 com a chef Dadá da Bahia. Relendo a revista Fest gourmet do evento anterior. O nosso amigo e jornalista da revista, Homero vianna , relata num texto maravilhoso qual a medida que transfoma o apetite saudável em gula?

Vale aqui repassar alguns trechos de seu relato.

Através dos trabalhos e pesquisas de dados do Slow Food para a Biodiversidade, 75% da diversidade alimentar da Europa desapareceu desde 1900. No mesmo período, 33% da espécie de gado também desapareceu e 30.000 espécies de vegetais comestíveis foram extintos nesse período.




Desde na Mesopotâmia e na Suméria, já haviam banquetes noturnos com ritos precisos, nos quais, comer e beber juntos tinha a função de fortalecer os laços de amizade e organização social; e o faziam acompanhado por boa quantidade de bebidas, cerveja forte, vinho, e fermentados feitos de tâmaras. Este cerimonial, com regras restritas, foi essencial na organização das alianças de uma herarquia de poder e mesmo na estruturação da comunidade.

Da antiguidade até hoje, é nos banquetes que os homens se definem, imprimem relações de ordem, justiça e poder, ou a negação de tudo isso. Uma nova gula se estabelece como o banquete do nosso tempo, brutal, desmedido, em agressão às regras, sem noção de ordem, gastando impunes os haveres do outro (do futuro), como descrito no relatório do Painel de Mudanças Climáticas da ONU e no Protocolo de Kyoto, que apontam para o esgotamento da terra, do mar e do ar.

Enfim, temos que comer, e comendo juntos, engendramos uma organização social, uma relação equilibrada entre homens como convivas compartilhando o alimento. Resta agora saber como, no mundo contemporâneo se manifesta essa relação, e esta investigação nos leva à nova gula. Traçar uma linha simples e clara não é tarefa fácil. Se começarmos pelo que primeiro vem à mente, a gula implica em uma desrazão, desproporção ou desordem, o apetite transbordando a medida; dissolve-se a temperança e ao se chegar ao fastio não existe mais prazer nem necessidade, o excesso será a falta!!!

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